Beto Faro vende o PT de porteira fechada para Helder; a questão é se vai conseguir entregar
Gesto extremo de divulgar filiação de Igor Normando, primo de Helder, ao PT para sair candidato à Prefeitura de Belém seria a derradeira prova; freio de arrumação veio de Dirceu Ten Caten, de Marabá.
Beto Faro, que já foi Beto da Fetagri, tem um histórico turbulento. Emergiu no PT pelas mãos de Paulo Rocha, que por décadas reinou soberano como principal dirigente local da legenda fundada por Luiz Inácio da Silva.
Vindo da atividade sindical entre trabalhadores rurais no oeste do Pará, Faro foi acusado de grilagem, em 2004, no âmbito da Operação Faroeste, quando era superintendente do Incra. Na ocasião, a Polícia Federal o prendeu sob alegação de que ele havia autorizado ilegalmente a regularização fundiária de 500 mil hectares de glebas em Santarém, Prainha, Trairão, Oriximiná e Placas, beneficiando plantadores de soja e madeireiros. As terras eram da União. O atual secretário de Segurança do Estado, Ualame Machado, delegado federal de carreira, foi quem efetuou a prisão do hoje senador Beto Faro, apoiado por Helder na última eleição de 2022.
Em 2023, após o pleito vencido por Faro, o Ministério Público Eleitoral entrou com representação contra o senador eleito e seus suplentes. Segundo a Procuradoria Regional Eleitoral, a ação foi movida por compra de votos e assédio eleitoral no Instituto de Gestão Previdenciária do Estado do Pará, Igeprev.
O processo, ainda em aberto, corre em sigilo. Áudios de reunião entre o então candidato do PT ao Senado, Beto Faro, e o dono da empresa Kapa Capital, supostamente negociando compra de votos, vazaram. Se as irregularidades forem reconhecidas por sentença da Justiça Eleitoral, Faro terá o diploma cassado.
“Puxadinho do MDB”
Os adversários internos do senador do governador verbalizam que, desde que assumiu a presidência estadual do PT, Faro transformou o partido em “puxadinho do MDB”, atuando desde então como ajudante de ordens do governador. Os indícios dessa prática pululam, com destaque para o agasalhamento, na primeira suplência do Senado, do ilustre desconhecido Josenir Nascimento, “o petista azul”, que saiu diretamente dos corredores da Casa Civil do Governo e da lista de filiados do MDB para ocupar o cargo de indicação do PT, tirando do páreo o ex-deputado Zé Geraldo, que dormiu suplente e acordou de fora da disputa de 2022.
Com o PT a tiracolo como se fosse sua “bolsa capanga”, Faro fala grosso e diz que manda e o partido obedece. Mas a disputa interna no PT local passou para um outro estágio desde que Lula voltou a morar no Alvorada e “os humilhados passaram a ser exaltados”, como se diz nos templos neopentecostais.
Caminho das pedras
Todos sabem que o canal de acesso entre a política do Pará e o governo Lula não passa por Faro, em que pese o cargo que ocupa. Quem quer chegar a Lula, ou fala com o governador, ou precisa ir à travessa Antônio Baena, 1113, onde despacha o ex-senador e atual superintendente da Sudam, Paulo Rocha.
Amigo de Lula desde o final dos anos 1970, Rocha foi deputado junto com o atual presidente e dele não se distanciou, mesmo nos piores momentos, como os vividos por Lula no mensalão, na Operação Lava jato e, depois, durante sua prisão. O presidente reconhece essa lealdade e por isso Rocha assumiu o cargo mais relevante na divisão de espaços do governo federal no Pará e tem a última palavra nas nomeações locais do partido.
Ousadia sem limites
Faro, contudo, não desiste em manter as aparências. Sua última ousadia foi divulgar, sem qualquer debate interno, a informação de que o partido irá filiar o deputado licenciado Igor Normando, eleito por um partido bolsonarista, o Podemos, e primo de Helder Barbalho, para que esse dispute a Prefeitura de Belém pela legenda. Normando sequer desponta como um dos favoritos nas pesquisas de opinião que circulam de mão em mão. Dos nomes ligados ao governador, é um dos que exibem os piores índices na disputa.
Freio de arrumação
O gesto extremo de ter um candidato com perfil de centro-direita como nome petista na disputa da capital seria a derradeira prova de que Faro vendeu o PT de porteira fechada para o MDB e o partido perdeu qualquer traço de independência.
O “freio de arrumação” veio do deputado Dirceu Ten Caten, que classificou como “muito difícil” a aprovação do nome de Normando como candidato a prefeito de Belém pelo PT, com o subsequente afastamento do partido da base de apoio de Edmilson Rodrigues.
“As tendências Democracia Socialista, do vice-prefeito Edilson Moura; a Unidade na Luta (Paulo Rocha), que ocupa a Funpapa, e a Construindo um Novo Pará (CNP), dos deputados Dirceu e Airton Faleiro, que ocupa a secretaria de Economia, estão dispostas a seguir com Edmilson até o fim”, declarou o deputado, que reafirmou sua intenção em disputar a Prefeitura de Marabá.
Cortina de fumaça
A ideia que Faro vende para o governador, de que tem o controle pleno do PT local, carece de comprovação prática. Além disso, o grupo de Faro ocupa a poderosa Secretaria de Saneamento de Belém, o terceiro orçamento mais robusto da PMB. Ele próprio teria dificuldade de convencer seu grupo em abandonar centenas de cargos e o controle sobre os contratos vinculados à pasta. Segundo fontes da PMB, o que está motivando o cabo de guerra entre Faro e Edmilson é justamente o controle sobre o contrato de conservação urbana e coleta de lixo domiciliar em Belém, no valor de mais de R$ 120 milhões.
Faro teria demonstrado interesse em patrocinar o pleito da BA Ambiental, empresa que supostamente auxiliou em sua campanha, em detrimento a Terraplena, titular do serviço e favorita na disputa. Nesse contexto, vender novamente o PT para Helder e seu primo seria apenas uma cortina de fumaça para um jogo de pressão que fontes do Psol reputam como chantagem.
Com informações do Portal do Olavo Dutra.