Lula muda de ideia e diz a senadores que é contra o fim da reeleição

Declaração foi em jantar oferecido no Alvorada a senadores aliados

O presidente e a primeira-dama recepcionaram os convidados nos Salões do Palácio da Alvorada

No melhor estilo “contradição ambulante”, por ele mesmo cunhada tempos atrás, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse na noite de terça-feira (5), num jantar oferecido a senadores aliados no Palácio do Alvorada, residência oficial do mandatário, que é contra o fim da reeleição.

O assunto vem sendo discutido no Congresso Nacional, ganhou força nas últimas semanas e está cotado para entrar na pauta do Senado no âmbito da minirreforma eleitoral em discussão na Casa, entretanto, a reeleição será tratado na forma de três projetos de emenda à Constituição, cujas respectivas redações estão em fase final de elaboração.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que estava presente no encontro, passou a defender a reformulação do sistema eleitoral. Pacheco e os senadores sugerem, por exemplo, a análise de textos que atualizam o Código Eleitoral e que acabam com a reeleição para prefeitos, governadores e presidente da República.

Ao ouvir os senadores mencionarem o assunto, Lula discordou. “Ele [Lula] disse que as principais democracias do mundo garantem isso [mecanismo da reeleição]”, garantiu uma fonte presente à confraternização.

“Mesmo sendo uma proposta que não afeta o mandato dele [Lula], o presidente não concorda”, explicou o interlocutor. A informação foi confirmada por mais duas pessoas que também participaram da reunião.

Apesar da discordância em relação a este assunto, o clima da reunião seguiu tranquilo, segundo os senadores. “Foi extremamente agradável. Uma oportunidade que o presidente do Senado e os líderes tiveram de fazer um balanço sobre as boas ações conquistadas pelo governo com a parceria da bancada no Senado Federal. O presidente Lula fez questão de ressaltar o comprometimento da base dele”, disse o vice-presidente do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB).

Os senadores da base aliada, por outro lado, cobraram uma maior aproximação com o governo durante a confraternização com o presidente.

Sobre isso, houve, inclusive, um apelo para que Lula passe a receber com mais frequência, no Palácio do Planalto, as bancadas partidárias. A menção a este tema fez com que senadora Eliziane Gama (MA) pedisse a palavra. Ela aproveitou a oportunidade para pedir ao presidente mais atenção à bancada feminina.

De acordo com relatos de participantes do encontro, coube também ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ao presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), e ao líder do PSD, Otto Alencar (BA), reforçarem a demanda.

Alcolumbre, segundo os senadores presentes, chegou a enfatizar que este foi o primeiro encontro para o Senado no Alvorada. A Câmara, por sua vez, já teve duas confraternizações desse tipo antes.

Questionado sobre essas cobranças, os auxiliares do presidente amenizaram. “Sempre pedem. É normal. Nos primeiros governos também sempre pediam”, disse um assessor.

Além disso, Pacheco fez um balanço do que o Senado aprovou no último ano e falou da importância de terem novos encontros como esse. Também agradeceu o gesto do presidente de receber os parlamentares em sua residência. Lula, por sua vez, demonstrou bastante otimismo, disse que o País vai crescer e que está empenhado em recuperar a confiança internacional que o mundo tem no Brasil.

O presidente também frisou a importância do projeto enviado pelo governo nesta semana ao Congresso para regulamentar a profissão dos motoristas de aplicativo. Marcelo Castro (PI), por sua vez, elogiou o desempenho econômico do governo e o ministro Fernado Haddad (Fazenda), que também estava presente, mas não discursou.

“Quando o Lula foi eleito, uma pesquisa feita na Faria Lima mostrava que mais de 90% dos empresários tinham expectativa de que a economia iria piorar. Meses depois, uma nova pesquisa mostrou que menos de 40% continuaram afirmando que economia iria piorar. Isso ocorreu por vários fatores, como a grande sacada que Haddad teve do arcabouço fiscal, substituindo teto de gasto e trazendo tranquilidade pro mercado”, disse Marcelo Castro.

Ele contou que também chamou a atenção do governo para melhorar a questão da comunicação nas redes sociais. “Precisa também ter essa atenção”, destacou.

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