Marabá/PA: Moradores do Residencial Tiradentes ameaçam bloquear rodovia.

Centenas de famílias do chamado Nem Nem convivem diariamente com esgoto a céu aberto clamam por socorro para se livrar do odor de fezes

“Precisamos urgente da ajuda do poder público. Estamos cansados. Nunca mais fizemos greve na rodovia porque queremos conversar, não queremos briga. Mas, infelizmente está chegando ao ponto de fechar a PA-150 novamente. Não aguentamos mais esperar”, começa falando José de Deus, popularmente conhecido como Pereirão.

Morando há 9 anos no Residencial Tiradentes, que fica às margens da PA-150, entre os núcleos de Morada Nova e São Félix, região conhecida como Nem Nem (nem um núcleo, nem o outro), o morador sente na pele o sofrimento do descaso da Prefeitura de Marabá.

Os bueiros que estouram e deixam o esgoto acumulado nas ruas do Residencial são o resultado do abandono do poder público. A água acumulada nas portas das casas é na verdade o chorume de fezes e incomoda pelo mau cheiro, sendo uma das principais causas de doenças – como diarreia e virose – nas crianças que vivem na localidade. A falta de serviços básicos de infraestrutura, como esgoto e iluminação pública, reacende ainda mais o desamparo com a comunidade.

“O carro limpa-fossa vem de manhã e à tarde já está tudo estourado. Precisamos com urgência da ajuda do Poder Público. Estamos organizando de ir no Ministério Público levar pedidos de ajuda por conta da água, esgoto e saúde. Não dá mais pra esperar. Estamos indignados. Socorro. Estamos pedindo socorro!!”, clama Pereirão, com a voz tremula.

O idoso de 75 anos mora na Rua Ranieri Santana, uma das mais precárias, e lamenta a situação e diz que é um sofrimento viver dentro da própria casa. “A gente não tem outro lugar pra morar. Tem que aguentar esse mau cheiro e conviver com isso. Não podemos ficar na porta de casa, tomar café, almoçar e jantar de porta aberta. Vivemos trancados dentro de casa e ninguém faz nada pela gente”, diz Osório Pereira, que improvisou a construção de uma ‘ponte’ para poder sair e entrar em casa.

Com a proximidade do período chuvoso, as ruas que já ficam alagadas por conta do esgoto, vão ficar ainda piores com a água da chuva que se mistura à água contaminada e chega a entrar dentro das casas.

Jairo Rodrigues, 43 anos, afirma que o problema de saneamento básico do Residencial é desde o início. “Entra prefeito e sai prefeito e ninguém faz nada aqui. Vai fazer 10 anos que estamos nessa situação. É um fedor horrível. No inverno entra água dentro de casa. A gente fica ilhado. É uma situação precária”, lamenta.

Outra moradora que está indignada com essa situação é Wellen Ferreira, que não aguenta mais os bueiros estourados. “Não importa se é inverno ou verão. Moro há 3 anos aqui e há 3 anos é essa situação. Pra sair de casa só passando por dentro do esgoto. Ninguém vem aqui, ninguém resolve nada”, fala.

Ela conta que além do sério problema com o esgoto, o Tiradentes ainda sofre com a falta de água e falta de iluminação pública. Wellen afirma que passou das 18 horas as ruas viram um breu.

“Nós estamos abandonados. As crianças não podem brincar na porta de casa por causa do esgoto. A gente fica numa escuridão porque as luzes dos postes estão todas queimadas. O povo diz que o prefeito não pode mexer aqui porque é da Caixa. Quem pode nos ajudar? Porque o prefeito não pode, a Caixa não vem. Quem vai fazer alguma coisa por nós?”, questiona, esbravejando.

A presidente da Associação de Moradores do Residencial Tiradentes, Florisângela Maranhão, diz que o problema do bairro é crítico e antigo. Ela detalha que falta água, e quando chega nas torneiras é de péssima qualidade.

Além disso, outro grave problema é a rede de esgoto, que vive estourada. “As fezes voltam dentro do banheiro pelo ralo. Nossos banheiros ficam podre, só cocô”.

De acordo com ela, os moradores vivem em um esgoto a céu aberto e não tem outra alternativa. “As crianças adoecem. Aqui não temos médico. Acontece uma ação extra muro de 15 em 15 dias. Tem mulher grávida que precisa sair de madrugada de casa para pegar senha no posto de saúde. Pedimos que olhem por nós. Não adoecemos de 15 em 15 dias. Sofremos com a falta de água, com o esgoto e com a falta de médicos”, finaliza Flor.

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