Morte de indígena em acidente acende debate sobre saúde mental nas aldeias de Bom Jesus

Acidente ocorreu entre veículos dirigidos por dois indígenas na TI Mãe Maria. Vítima fatal faria 22 anos neste domingo (3) e estaria sofrendo de depressão e ansiedade

As quase 30 aldeias da Terra Indígena Mãe Maria estão de luto neste domingo (3), em função da morte de um jovem da comunidade Hàktijõkri, na noite anterior, após uma colisão frontal com veículo dirigido por um integrante da aldeia Akrôtikatejê.

Jokuntumkwyre, ou simplesmente Bidio Sj, como era conhecido na comunidade indígena, tinha apenas 21 anos de idade. Ele pilotava uma motocicleta, que colidiu com a Duster em frente à aldeia Krijohere, na BR-222, no perímetro da TI Mãe Maria. Seu enterro ocorreu no dia em que completaria 22 anos de idade. Seu corpo foi velado na tarde deste domingo, em sua aldeia, Hàkti, e então levado para ser enterrado no cemitério em frente à aldeia Parkatêjê, por volta das 17h30.

Bidio era acadêmico de Ciências Econômicas na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), na Unidade 3 de Marabá. Era nessa área que pretendia ajudar sua comunidade no futuro. Paralelamente, participava de manifestações em prol da cultura indígena e chegou a ir a Brasília no ano passado para apoiar ações nacionais em favor da causa.

Neste domingo, a professora Rosani Fernandes, que é indígena e tem grande atuação na TI Mãe Maria, postou uma homenagem em sua rede social. Ao mesmo tempo, fez um alerta às autoridades sobre a falta de política de saúde mental para os indígenas. Ela afirma que o jovem sofria com depressão e ansiedade – assim como vários outros jovens da Terra Indígena –, tendo procurado ajuda, mas não encontrando-a na Secretaria de Saúde Indígena (SESAI).

“Conheci o Bidio com 3 anos de idade, foi nosso aluno na Escola Tatakti Kyikatêjê, na TI Mãe Maria. Era um menino alegre, cheio de vida. Ele faria aniversário hoje, mas faleceu ontem à noite em um grave acidente na BR-222, na altura do Km 30. Bidio era jovem, tinha sonhos, estava estudando na UNIFESSPA, mas, como muitos parentes indígenas jovens, estava com depressão e ansiedade. Procurou por atendimento na SESAI e foi orientado a ir ao município de Bom Jesus,” relatou Fernandes 

“Pergunto, como está a política de saúde mental na SESAI? O Bidio se foi e será enterrado no dia do seu aniversário, hoje, 3 de setembro de 2023. Mas quantos jovens estão adoecidos nas aldeias, se alcoolizando para fugir da ansiedade e da depressão?” E finalizou: “Precisamos falar seriamente em política pública em saúde mental para povos indígenas. É uma luta que todos nós devemos apoiar. Descanse em paz, Bidio. Meus sentimentos aos familiares e amigos”.

Brenda Woch, parente da vítima fatal, reforçou que ele sofreria com problemas de saúde mental: “Tentamos tanto te ajudar cunhado, você estava lutando contra essa ansiedade maldita”.

Outro jovem indígena, da mesma idade de Bidio, entrou em contato com a Reportagem do Blog e confirmou que a vítima estaria alcoolizada e não sabia os detalhes do acidente, dizendo que o trecho da rodovia tinha boas condições de trafegabilidade.

(Com informações do Blog do Zé Dudu)